sábado

Minhas mãos tentam traçar no papel  de um jeito rápido as lembranças nostálgicas que correm por minha cabeça,são menos ágeis no momento em que largo suspiros ao lembrar do que devia ser esquecido.

sexta-feira

Risos compassados escapavam por entre nossos lábios enquanto adentrávamos a cada instante uma nova rua.A chuva gotejava sobre nossas cabeças e encharcava nossos sapatos ao pularmos de poça em poça.Seu riso saiu abafado pelos tantos casacos e cachecóis.O vento soitava forte e levantada seu cabelo, junto das folhas à pouco caídas do topo das árvores.Minha mão gelada puxava a tua fortemente e te levava a ver um cenário novo, fosse um casebre conservado ou uma árvore desfolhada.Teu sorriso era comprido e inacabável assim como as ruas com esquinas, que continuavam a se dobrar e prolongar através dos passos.Era uma pena que teu sorriso fosse tão feliz, e o meu tão menos alegre,menos vivo.Queria poder dividir o mesmo tipo de sentimento, e que não houvesse culpa por minha parte.
Uma voz ressonante e seca a chama no quarto ao lado.Não é a primeira e nem a segunda vez,vem lhe tirando o sono à muitas noites.Mas é apenas uma voz, não há corpo nem presença que lhe possa fazer companhia.
Era um destes cafés pequenos e encardidos.Havia uma fina camada de gordura cobrindo as mesas com tampo de fórmica.Além da sujeira, em minha mesa  desprovida de luz, havia também livros e milhares de folhas de papel amassado, algumas com dizeres, outras com desenhos confusos e versos que não rimavam;todos encharcados pelo líquido escuro que acabara de escapar de minha xícara, quando minha dor transformou-se em raiva e fugiu através de minhas mãos que derrubaram a xícara e amassaram as folhas de papel, no mesmo instante em que meus olhos eram molhados por lágrimas finas, sem ao menos me importar com os olhares alheios.Tracei o bar  ao me deparar com os olhos dela, mas antes mesmo de poder fitá-la, ela já se encontrava de pé, guardando o mesmo tipo de papéis amassados, pagando sua conta e passando pela porta, deixando que eu pudesse fitar seu rosto uma única vez, para que me perguntasse o que trazia, também, lágrimas a seus olhos.
Lágrimas já umedeceram o tecido fino do lençol.Lágrimas essas que não mais me pertencem, pertencem a uma dor que há muito já deixou meu peito vazio.
So tell me when you hear my heart stop
You're the only one that knows
Tell me when you hear my silence
There's a possibility I wouldn't know

So tell me when my silence's over
You're the reason why I'm closed
Tell me when you hear me falling
There's a possibility it wouldn't show

quinta-feira

A luz é fraca, e o cômodo tem sujeira em excesso.Os azulejos que acobertam a parede desbotada são opacos e velhos.Meus pés pisam em um chão úmido e gélido, e a água escorre por meu cabelo desgrenhado e desce por meu corpo nu.Minhas mãos correm de meu pescoço até minha panturilha amaciando a pele molhada pela água gelada.Lava toda a  minha sujeira exterior e também a interior.Ergue-se minha fronte e a água lava toda a vergonha acumulada em meu rosto.A água lava com facilidade meu lado exterior, enquanto meus dedos encontram o vazio em meu peito, que continua cheio de lixo urbano, como um balcão velho na sala de estar, que mesmo vazio vai acumulando poeira e mais poeira por falta de uso.Meus dedos tateiam o vazio para poder livra-lo da sujeira  e tentam limpá-lo da melhor maneira possível, mesmo que ainda sobrem restos nas laterais e nas dobraduras.Quando sinto meu peito já vazio e limpo, procuro pelo puxador e cesso a água fria e pegajosa, enquanto ainda resta a água carregada de sujeira pingando de meu corpo e escorrida no chão.E meus olhos se fecham ao agarrar a toalha leve e secar aos poucos meu corpo solitário, e sentir a dor de pensar como seria bom algum dia ter meu peito preenchido com algo de verdade, e não a sujeira urbana que tanto me dá trabalho.
Não quero que vá embora, mas também não te quero comigo.Tua presença não me agrada mas tua partida menos ainda.Talvez se não der aviso prévio, tua partida não machuque.Decido então por pedir que  vá embora, mas por favor, não deixe bilhete.
Meus sorrisos,minhas gargalhadas, minhas lágrimas, minha vergonha, minha timidez, minhas palavras.Acredite, é um cena, uma cena que ensaio à tempos, por sorte nunca errei minhas falas, muito menos minha hora de entrar em cena.Se gostar do espetáculo, bata palmas ao final e não se preocupe, é gratuito.
Era o som do violino, eram  seus olhos me fitando, eram suas mãos delicadas tirando o som do instrumento, eram suas palavras atormentadoras,era tudo, tudo em você, que podia me fazer acreditar que eu talvez não tivesse um caminho traçado, e que meu peito vazio,pudesse,talvez,ser reconstruído.

sexta-feira

Pensei que houvesse algum dia sentido as mesmas dores que as minhas.Pensei que algum dia também acordava sob o mesmo teto, pedindo por razões.Pensei que teu peito ardia como o meu.Pensei que houvesse falta de algo em teu coração.Acreditei de verdade que poderia dividir comigo um mesmo tipo de dor, um mesmo tipo de solidão.Mas minhas noites diferente das tuas, são solitárias.Você corre para um lado contrário, um lado que foge ao meu,posso sentir que vira as costas e vai embora, me deixando acreditar que voltaria pra me dar tua companhia, aquela companhia que tu tanto dizia querer.

quinta-feira

Está morrendo aos poucos.Seu coração palpita congestionado.As pálpebras pesam acima dos olhos cansados.Dela foi tirado tudo, desde a felicidade à tristeza, desde a presença à alma.Restou apenas seu corpo vazio, esperando cansado deixar este mundo.

terça-feira

I couldn't tell you
Why she felt that way
She felt it everyday
I couldn't help her
I just watched her make
The same mistakes again
She wants to go home, but nobody's home
That's where she lies, broken inside
With no place to go, no place to go
To dry her eyes, broken inside
Open your eyes
And look outside
Find the reason why
You've been rejected
And now you can't find
What you left behind
Her feeling she hides
Her dream she can't find
She's losing her mind
She's falling behind
She can't find her place
She's losing her faith
She's falling from grace
She's all over the place
Parece estar afundando cada dia mais, o vazio em meu peito, afundando e afogando meu peito em um mar de desespero.

sábado

O corredor  comprido em branco marfim, eu sabia que me levava a um quarto em especial.Meus sapatos faziam onomatopéias ao tocar o chão lustroso do hospital.Parei a frente de um quarto de porta fechada, N158.Girei a maçaneta e adentrei o comodo bem iluminado.Havia a mesma única cama centralizada, o bidê baixo que à meses atrás vivia cheio de remédios, estava vazio, resplandecendo, agora, uma nova cor.A poltrona que por várias noites havia sido minha cama, continuava no mesmo lugar, próxima da janela.Eu a havia colocado lá, perto da janela, certa de que talvez pudesse respirar melhor, e fumar escondida, fugindo do olhar atento das enfermeiras.Coloquei as mãos sobre o lençol azul claro.Podia sentir sua presença, de certa forma, é claro que não eram os mesmos lençóis, aqueles sobre os quais ele repousou.Eu sentia sua falta tão dolorosamente que qualquer coisa que ele já houvesse tocado ou visto, era pra mim como uma salvação, como se pudesse desfrutar de sua companhia de novo.Ele havia estado lá, naquele quarto, por tempo suficiente, tempo de mais.Era maldoso lembrar dele daquela maneira, como estava em seus últimos momentos, mas parecia mais maldoso ainda tentar esquecê-lo.
Volte.Ou apenas me leve contigo.
E vais te embebedar deste maldito amor? Faça-o se quiser, mas aguarde ao tardar uma ressaca.

sexta-feira

I hear you're living out of state, running in a whole new scene
You know I haven't slept in weeks, you're the only thing I see.