quarta-feira

 E quando o sol se punha eu fechava as janelas, cerrava as cortinas,apaga as luzes e esperava que a escuridão chegasse.E quando eu menos esperava ele vinha, Alastair.Eu tentava me espremer por entre os cantos, caminhando e esbarrando nos móveis, enquanto as lágrimas sucumbiam impedindo que eu visse seu rosto.E quando me encontrava,encostava os lábios em meu ouvido ,pedindo que eu o perdoasse, perdoasse por ter me abandonado, por ter morrido.
 Acordei em um quarto bem iluminado, desprovido de cores fortes, em que tudo parecia opaco.
Meus olhos pouco viam e minha cabeça latejava.Meu corpo repousava em uma cama mole de lençóis no mesmo tom do quarto.Arqueei meu corpo sentando no colchão e colocando os pés no piso branco e gelado.Havia uma janela entreaberta e uma porta.Pulei da cama, percebi então que não vestia minhas roupas diárias.Havia outra peça que não era minha, também com as mesmas cores opacas.Puxei a maçaneta da porta e abri.Do outro lado havia um corredor.Abarrotado de pessoas indo e vindo em direções contrárias.Chamei por uma mulher de meia-idade que carregava uma prancheta.Não me ouviu, ou apenas ignorou.Caminhei ao encontro dela e esbarrei em um jovem bem vestido.Pedi desculpas mas ele nem ao menos me olhou, pareceu não perceber meu toque.Pedi se alguém podia me ajudar aumentando o tom de voz.Aparentemente ninguém se importou.Corri até o fim do corredor pedindo para que as pessoas me olhassem.
 Vi, de repente, alguém que eu conhecia dentro de um dos quartos, um velho amigo que há meses não via,sentado sobre o criado mudo,observando um corpo desacordado sobre a cama.
Chamei por seu nome e ele não respondeu.
Fixei então os olhos amargamente sobre o corpo.O meu corpo.Desacordado e sem alma.Morto.