quinta-feira

Me pergunto onde anda aquele que deveria me ajudar quando meu peito se parte.Onde está aquele que dirá que tudo ficará certo,mesmo que não fique.Preciso de mentiras confortadoras,sorrisos falsos e abraços mal-dados.Qualquer um que possa me ceder a mão e dizer que me ajuda, que me tira desse poço,dessa fossa,desse buraco fundo em que a vida me enfiou.
E ainda vai me ver vagar pelas ruas solitárias e becos escuros.Tragando o cigarro,o rosto cansado, aparência doentia.

domingo

Encontrei seus olhos no meio da multidão.Meu coração nem ao menos sentiu, porque, não mais te amo.

quarta-feira

 E quando o sol se punha eu fechava as janelas, cerrava as cortinas,apaga as luzes e esperava que a escuridão chegasse.E quando eu menos esperava ele vinha, Alastair.Eu tentava me espremer por entre os cantos, caminhando e esbarrando nos móveis, enquanto as lágrimas sucumbiam impedindo que eu visse seu rosto.E quando me encontrava,encostava os lábios em meu ouvido ,pedindo que eu o perdoasse, perdoasse por ter me abandonado, por ter morrido.
 Acordei em um quarto bem iluminado, desprovido de cores fortes, em que tudo parecia opaco.
Meus olhos pouco viam e minha cabeça latejava.Meu corpo repousava em uma cama mole de lençóis no mesmo tom do quarto.Arqueei meu corpo sentando no colchão e colocando os pés no piso branco e gelado.Havia uma janela entreaberta e uma porta.Pulei da cama, percebi então que não vestia minhas roupas diárias.Havia outra peça que não era minha, também com as mesmas cores opacas.Puxei a maçaneta da porta e abri.Do outro lado havia um corredor.Abarrotado de pessoas indo e vindo em direções contrárias.Chamei por uma mulher de meia-idade que carregava uma prancheta.Não me ouviu, ou apenas ignorou.Caminhei ao encontro dela e esbarrei em um jovem bem vestido.Pedi desculpas mas ele nem ao menos me olhou, pareceu não perceber meu toque.Pedi se alguém podia me ajudar aumentando o tom de voz.Aparentemente ninguém se importou.Corri até o fim do corredor pedindo para que as pessoas me olhassem.
 Vi, de repente, alguém que eu conhecia dentro de um dos quartos, um velho amigo que há meses não via,sentado sobre o criado mudo,observando um corpo desacordado sobre a cama.
Chamei por seu nome e ele não respondeu.
Fixei então os olhos amargamente sobre o corpo.O meu corpo.Desacordado e sem alma.Morto.
 Minha pele ardia debaixo do sol quente.O ar estava pesado e seco, em mais um dia de verão.Sentada no meio fio da calçada, em uma mão segurava um mochila, e na outra prendia entre os dedos um cigarro.Os vizinhos, todos do lado de fora de casa, tentando se refrescar sentados nas cadeiras reclinavéis da varanda.
Ouvi um ronronar leve de motor, no inicio da rua que dobrava a minha casa,e a poucos metros pude ver o Chevy Impala 1967,preto e reluzente,parando em frente a minha casa.Levantei rapidamente, enquanto a porta do motorista era aberta.
Ele saiu do carro, vindo ao meu encontro, tirando o cigarro de minha mão,sorrindo gozado e fitando-me com os olhos verdíssimos.Ainda tinha o ar irônico e a beleza incomum,o ar selvagem e desleixado,em uma combinação avassaladora.Pegou-me pela mão e abriu a porta do caroneiro.Sentei e ajeitei a mochila, enquanto ele colocava a chave na ignição e ligava o rádio, em uma música turbulenta, que falava sobre estrada para o inferno e liberdade.Me fitou pela segunda vez, levou uma das mãos a meus rosto e com a outra agarrou minha nuca,e seus lábios vieram de encontro aos meus.
Ainda com os lábios nos meus, pisou no acelerador,o motor gemeu, e partimos mais uma vez,estrada à fora.
E nada restou no teu lugar,só a saudade e a sempre bem-vinda solidão.

sexta-feira

Ah!Fumarás demais,beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suícidios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro o cheiro preciso dele (...)
Caio F.


Luzes natalinas atravessam a minha janela.O vizinho que mora no apartamento de cima está fazendo uma ceia, e a julgar pelos ruídos, os convidados abrem os presentes.A  jovem vizinha que mora no apartamento ao lado saiu à algumas horas com o namorado,vi pela vidraça da sacada que trocavam beijos a luz do luar, enquanto ele dizia a ela juras de amor.O casal de velhinhos que mora do outro lado, recebeu a visita de seus filhos, e ainda ceiam com a família.Já são 23h e 30.Meu apartamento está vazio,não há luzes,não há enfeites,e sombras onipresentes e melancólicas vagam pela sala.Estou esperando até que o dia chegue ao final, e seja então Natal, para que eu possa me deitar e dormir, sonhar,apenas sonhar,que alguém adentre meu apartamento e traga coisas gostosas para que eu coma,e que traga luzes para que eu acenda como em todas as outras casas,dê-me algum presente que não preciso e cante comigo canções propícias à época. Quero que alguém espere até  a meia-noite para me desejar um Feliz Natal,e que por favor, alguém expulse a solidão deste lugar, que nunca vai embora, e que parece não se importar com datas festivas,continua por perto, independente de luzes coloridas acesas ou não.

sábado

That day never came
That day
Never comes
I'm not letting go
I keep hangin' on
Everybody says
That time heals the pain
I've been waiting forever
That day never came

sexta-feira

Fui  pega de surpresa ao me deparar com lembranças antigas, trazendo em meu peito um tipo de má-nostalgia.E vi com clareza que nunca vivi o que quis, e que em cada ato meu faltava um detalhe importante, que determinou minha felicidade e minha tristeza.

segunda-feira

Deitei sobre seu peito morto, e olhei pelos olhos embaçados de lágrimas seu rosto mais uma vez.Seu corpo transbordava sangue, o meu dor.Ele morria.Eu ficava.Injusto, apenas injusto.

quarta-feira