terça-feira

Dirigi pela estrada costeira até a casa decrépita em que passei meus verões por anos.
Como havia imaginado não havia presença alguma nas ruas, não que eu esperasse por alguém naquela época do ano.
O céu estava escuro, talvez mais tarde a chuva viria.
O cheiro de maresia invadiu minhas narinas no momento em que abri a porta do carro.Aprendi a odiar aquele cheiro.
A pequena casinha beira-mar continuava lá, era cercada por cercas-vivas. A casa já maltrada e sem cor ainda tinha a sombra de uma casa que um dia fora confortável.Passei pelo portão que rangia levemente e comecei a procurar por uma chave em minha bolsa,coloquei-a na fechadura e girei.
O cheiro de mofo da casa incomodou meu nariz.Encostei a porta, e dei uma longa olhada na sala.Tudo estava do mesmo jeito, o cinzeiro parecia não ter sido esvaziado,havia uma ou duas almofadas perto da poltrona, havia xícaras e copos na estante onde ficava a televisão.O tapete estava descolocado e um pouco enrolado.
Tudo do geito que ele gostava.
Sentei-me na poltrona.Logo meus pensamentos pararam.Ele havia repousado seu corpo ali.Coloquei as mãos na almofada, suas mãos podiam tê-las agarado antes.
Fechei os olhos calmamente.Queria poder sentir sua falta do modo que ele merecia, com grandes choros e gritos de agonia, e não saber que logo mais estaria indo embora, me esquecendo que um dia ele esteve em minha vida.
Ele merecia,mas eu não podia, eu não conseguia fazer melhor.
Abri os olhos e ouvi a chuva começar a cair do lado de fora.

continua talvez.

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